sexta-feira, 19 de junho de 2009

Léo and Me, Ultimo Post!



Vamos lá!

Faz muito tempo que não crio coragem de escrever, fico tão desanimado, tão estranho me sentindo tão pra baixo que não tenho nenhum impulso em sentar-me no computador e por todos os meus pensamentos, duvidas medos e acontecimentos em pauta.
Só que hoje foi um dia daqueles, quer dizer ontem foi, já que ainda são 08:16 da manhã e já faz algumas horas que estou acordado, a toa, pensando em milhões de coisas extremamente descartáveis, e sem nexo algum.

Mas vamos a história que vocês tanto esperam.

Léo and Me

Foi super normal a minha definitiva saída de casa, aos poucos fui levando as coisas, e quando fui ver, já estava em um quitinete mais que minúsculo em Copacabana, não tinha móveis, ou amigos, sequer um cachorro vagabundo com quem dividir a pouca comida que me restava, estava cheio de pensamentos, os sonhos cada vez mais acumulados dentro da bolha que era minha mente.
Meu celular estava cortado e só recebia ligações, me sentia como um senhor cheio de décadas nas costas, mesmo tendo apenas as minhas duas somadas a dois longos anos. Olhei para a minúscula cozinha, estava sentado no chão, arrumando meus livros, e tentando retirar as coisas da mala, o pacote da “casa” já vinha com uma cama de solteiro ( até por que quem conseguisse por uma cama de casal ali dentro, com certeza poderia se candidatar a vaga de gênio da lâmpada, até por que aquele do Aladim já deve ter morrido mesmo.)
Arrumei os livros em uma prateleira de madeira que ficava em cima da cama, as roupas ficaram dentro da cômoda velha, e se vocês estiverem pensando que esse buraco é muito inferior para um bairro como Copacabana, pode ter certeza, existem bem piores. Fiquei tentando fazer alguma coisa pra me distrair, mas não encontrava nada, realmente nada pra fazer, fui até uma banca de jornal e comprei um novo chip, aquilo era meio que um símbolo, quando quebrei o antigo, senti que minha vida morria ali, pode até ser uma metáfora um pouco exagerada, e alguns vão dizer que é o cumulo da futilidade deixar a vida dentro de algo tão minúsculo, mas se formos perceber, tudo o que precisamos (Quase Tudo!) cabe dentro daquela minúscula partícula chave da tecnologia GSM.
Perdi todos os meus contatos, as músicas, as fotos e todos os outros deliciosos prazeres que a tecnologia exacerbada nos proporciona. Mas com certeza e graças a deus, toda essa parafernália ainda não conseguiu vencer a durabilidade que tem nossa memória, já que dali seria impossível apagar qualquer coisa ( salvo a amnésia alcoólica, o Mal de Alzehimer e outras patologias que não conheço), e foi assim, fazendo uma pesquisa dentro de minha caixa preta ( estou ouvindo muito essa palavra em decorrência do terrível acidente com o avião da Air France, força para as famílias, e fé em deus!), procurei bastante, mexi em todos os arquivos, alguns neurônios atrevidos tentavam impedir meu percurso, eles eram pegajosos, e ficavam tentando desviar minha atenção, mas eu consegui vence-los, e dentro de uma caixa empoeirada consegui encontrar o que tanto caçava, um numero de telefone, oito dígitos estavam ali, um ao lado do outro em uma fila indiana na horizontal, disquei rapidamente.

- Alô.
- Alô. Digo?
- Isso ai Léo, como vai?
- Bem cara, e você?
- Bem também.
Um silencio desses intermináveis pairou...
- Onde ‘cê’ ta morando?
- Na Barão da torre.
- Hum...
- Seu pai me ligou hoje.
- Sério, e o que ele queria?
- Perguntou como eu tava, e se sabia alguma coisa sobre você.
- É ainda não tive coragem de falar que sai de casa e estou em um quitinete aqui em Copacabana.
- Hum... Mas por que você saiu de lá cara?
- Ué, de qualquer forma isso ia acontecer apenas antecipei as coisas.
- É, mas isso só acontece quando a pessoa já tem estabilidade ai sim é natural.
- Será que você ainda não percebeu que tudo o que ocorre na minha vida não é natural, que naturalidade é algo que eu só ouço falar?!
- Você que cria isso, essas coisas, esses problemas, esses abismos.
- Às vezes eu me pergunto por que eu ainda ligo pra você muleque!
- Por que todos precisamos ouvir umas verdades as vezes, ah e por que você me ama né... Hehehe.
- Aff’z Léo... Risos em conjunto.
- Me dá o endereço ai que dou uma passa rápida ai.
- Passada rápida? Por quê?
- Por que vou sair com a Luana hoje.




No dia 12 de abril eu e Léo definitivamente terminamos, não houve lágrimas, brigas ou discussões dessas de novela, acabou de uma forma lenta e fria, como a ultima noite em que passamos em Santa Catarina depois do carnaval.
Ele foi pra casa, eu fiquei na minha, depois de um tempo fui enjoando de tudo, das paredes, da cor da casa, da cara da Claudia, das brincadeiras e dos lápis de cor da Julia, do mal humor do meu pai, do bom humor do meu pai, das notas duas notas de 20 que ele me dava nos fins de semana, do meu perfil original e fake do Orkut, enjoei das comunidades, do meu computador em geral, fiquei estressado com minhas camisetas, e com esses músculos bizarros, não, não pensei em suicídio mais uma vez ( na verdade não com tanta intensidade, hehehe – Ta brincadeira -) estava simplesmente em uma fase de transição.

Aos poucos fui juntando as economias, as moedas que se encontravam nas janelas, as migalhas de pão ( kkkk nem tanto...) e fui saindo, saindo, saindo, levando mudas de roupa, dormindo algumas noites fora, até que sai definitivamente, ainda não me libertei totalmente do meu pai, é bem verdade que os depósitos em minha conta ainda permanecem, e acho que ele vai fazer isso até quando se for, não reclamo e nem sou tão orgulhoso ( e idiota) a ponto de recusar...

Mas isso tudo o que houve todas essas coisas, foram me tornando alguém mais forte, alguém mais frágil, continuo oscilando entre dois extremos, mas acho que isso tudo vai me tornar alguém daqui alguns anos, não sei se “Um merda na vida” ou talvez “Um cara de respeito“, isso só vai depender de mim, e de vocês, vai que eu deixe de ser preguiçoso e me torne um escritor do caramba...
Mas o que estou tentando dizer e não consigo, talvez por ser um profissional “enchedor” de lingüiças ( reforma ortográfica, desculpe-me, mas eu amo a trema quase nunca a uso, ficava super feliz em faze-lo, e vocês não vão me roubar essa sensação de felicidade, não mesmo!) E novamente o que tento dizer, é que terminei o relacionamento que me impulsionou a escrever este Blog, que me fez tão feliz durante todo este tempo, que me estabilizou e que retardou meu processo de loucura que se arrastava desde a infância, acho que por muito tempo pus tudo o que idealizava nas costas do Léo, todos os meus medos estavam ali, eu decididamente amava aquele muleque, e não vou dizer que ainda o amo por que isso não é verdade, sinto saudade, sinto falta das conversas, talvez até dos beijos é verdade, mas minha barriga não dói tanto quando o vejo, minhas pernas não tremem mais e não consigo ficar horas acordado esperando que ele me ligue, ou simplesmente pensando nos momentos em que ficávamos a toa pensando em como seria bom se tudo isso durasse pra sempre, infelizmente não dura.





Desliguei o telefone e fui até o quitinete, ainda não conseguia chamar aquilo de lar, tentei dar uma arrumada geral, sei lá, deixar um pouco mais de espaço pra que pelo menos o Léo entrasse e pudesse sentar sem esbarrar nas roupas, ou sofrer de asfixia repentina.

Fui até a cozinha e realmente seria impossível fazer qualquer tipo de comida ali, mas depois pensei o porquê de fazer comida, afinal pessoas que fazem uma visita rápida não devem ter o intuito de comer qualquer coisa.

Uns 30 minutos depois ele chegou, uma blusa gola pólo listrada, uma calça jeans escura, um tênis Nike ( Propaganda. A Nike está me pagando um bom dinheiro, hehehe), rasteiro com um cadarço laranja, um sorriso no rosto, um perfume que eu não conhecia, com certeza algum novo, amadeirado, só não posso dizer as notas com maestria, meu nariz é avantajado mas não foi tão adestrado assim.
Um sorriso no rosto, os cabelos arrepiados e com uma fina camada de gel ( nossa que gay isso “Fina camada de gel, kkkk). Demos um abraço apertado, e depois como se tivéssemos tomado um choque, ou talvez por sabermos que aquilo não daria certo de forma alguma nos largamos.

Ele sentou-se na cama, mas depois levantou e tirou dois pares de meia que repousavam sonolentamente em baixo de suas nádegas, eu ri sem graça, ele riu com vontade.

- Então é aqui que você está morando.
- É, por enquanto ( me apressei em dizer...)
E ele percebeu que estava incomodado, e talvez por isso continuou.
- Mas esse lugar é horrível Rodrigo.
- É eu sei, não precisa ficar me lembrando.
- Não, só uma pessoa que não pensa trocaria todo aquele conforto por isso aqui.
- Aff, eu até gosto, do assoalho, isso, eu acho super 10 isso aqui.
- Rodrigo, isso é uma cerâmica qualquer.
- É, mas até uma cerâmica qualquer, no lugar certo e... Na hora certa pode ser um piso super legal. Não vê o George Bush, ele era só um calhorda texano feio e com uma cabeça e orelhas daquele tamanho, um tirano louco e medieval, mas ele virou presidente, mas ele era o George Bush, mas ainda assim, mesmo sendo ele, estava lá, presente em todas as matérias, e presente em todo o mundo, essa cerâmica também é assim...

- É, mas George Bush não foi considerado legal...
-...Não?
- Não Rodrigo!
- Então foi o Obama, isso, o Obama...
- ...Você continua viajando né...
-... Não mais, estou um pouco sem dinheiro, sabe, mas juro que vou à Argentina!

Risos.

- Não agora é sério, o que você pensa em fazer da sua vida?
- Ainda não decidi Léo, mas dentro de mim, eu sempre soube que era nômade, em outras vidas eu andava por desertos com meu povo, tínhamos poucos animais, pois éramos pobres, e éramos nômades, e tínhamos pouca comida e não podíamos dividir o que tínhamos com camelos. E vagávamos por cidade em cidade, fazendo acampamento, usava trapos parecidos com estes que estão na mala a sua frente, eu seguia pelos vales com meus amigos nômades, o incesto comia solto, não na minha família, pois tínhamos valores, eu meu pai minha mãe, e a Julia, a Claudia não existia, e minha mãe teve a Julia do próprio ventre, nós quatro não gostávamos dessas safadezas, mas meu tio era pai de uma sobrinha, uma coisa bem louca, tirando isso, ficávamos felizes em sempre chegarmos bem em outro ambiente...

-... Para de falar, eu to falando sério seu louco, o que você vai fazer agora depois que essa euforia de menino rebelde passar? Voltar pra casa?
- Não nem pensar!
- Então?
- Então não sei, eu sei que vou fazer alguma coisa, mas até agora não sei o que, mas isso é bom se levarmos em consideração que todos vamos morrer, mesmo sem saber o dia, se soubesse seria muito ruim, é igual o meu caso...
- Você nunca pensou em crescer?
- Sim já pensei, mas desisti quando vi como são feios peitos no abdômen, sem contar que barba incomoda pra cacete!
- Já vi que não dá pra conversar com você!
- E verdade, me beija logo e ta tudo certo!
Muitos risos, um biscoito Trakinas compartilhado, ( quem disse que visitas rápidas não dão fome?) uma ligação, uns risinhos insuportáveis, palavras melosas, despedida sem abraço, mas com um aperto de mão, a promessa de voltar depois, “Não hoje não Rodrigo!” Os dias passando, eu enlouquecendo, indo a praia três vezes ao dia, amando o sol, a areia, as pessoas, o camarão vendido sem higiene alguma, as latinhas de cerveja se amontoando a meu lado enquanto olhava o mar, a pele descascando, milhões de espinhas, os amigos novos, o consumo de maconha, no inicio a tosse, depois a normalidade, a calmaria, o dinheiro gasto com isso, a decepção comigo mesmo depois que o efeito passava, o medo de ficar sozinho, uma saudade interminável do Fred, meu Fred, que só aparecia em sonhos, correndo como uma bola de pelo, minha mãe segurando o Fred no colo e dizendo pra eu conhecer o mundo aos poucos, usava uma roupa branca, os cabelos presos em um coque, um olhar que as vezes estava sereno e outras repreensivo, vinha em meus sonhos quase que sempre, as vezes nada dizia, só olhava com os grandes olhos castanhos.
Fiquei assim por um mês, morando no quitinete, escrevendo em cadernos velhos, barbudo, sem graça, nada de baladas, nada de amigos antigos, o Léo vi umas duas vezes, uma vez no arpoador, na nossa pedra junto com a então namorada, feliz, sorrindo, alegre e super gato, a menina abraçada a ele, usando seu casaco azul de capus, ele me viu, fingiu não ter visto, eu estava com os amigos maconheiros, ele fez uma puta cara de decepção, no outro dia, foi até o quitinete, me acordou esmurrando a porta, eram 16 da tarde, eu estava dormindo e cansado, e ainda meio bêbado, era um domingo, o sol entrava pela fresta da janela, o cheiro de bebida e roupa embolada estava insuportável, abri a porta ele entrou, não lembro a roupa que usava mas lembro da mesma expressão que havia visto na noite anterior, uma cara do tipo “quem é você?”

Levantei metade de meu corpo e minha cabeça começou a doer, ele saiu do quitinete, eu fui até o banheiro coletivo, tomei um banho, escovei os dentes, quando voltei ele estava lá, com uma coca de dois litros no chão, um pacote de guardanapos e copos descartáveis, um saco com pão francês e mortadela.

Comemos em silencio, não trocamos uma única palavra, depois de colocar os copos em uma sacola plástica, me olhou, dessa vez com pena, eu sentado na cama, olhando uma revista Quem, ele olhando pro chão, os braços sobre as pernas.

- Você acha que está certo o que está fazendo com sua vida Rodrigo?
- É...
- FALA NORMAL COMO UMA PESSOA NORMAL, COMO A PESSOA QUE EU SEI QUE VOCÊ É, SEJA HOMEM, E ME DIGA A VERDADE PORRA, VOCÊ ACHA QUE ESSA MERDA QUE VOCÊ TÁ FAZENDO COM A SUA VIDA TÁ CERTO?
Ele havia começado a gritar e a cuspir, e eu encolhido, no canto da cama.
- Não, léo, calma cara, eu...
- VOCÊ NADA, CARALHO CARA, VOCÊ É UM CARA INTELIGENTE, TÁ VIVENDO COMO UM IDIOTA, RETARDADO, SEI LÁ...
- Só não esqueça que isso é um quitinete e que se você continuar com esses gritos alguém chama a policia e ai sim eu to ferrado...
Foi uma piada, mas ninguém riu.
- TÁ, QUE SE DANE, FALA.
- Não, eu não acho certo, mas você quer que eu faça o que?
- Eu quero que você vire homem, que você deixe de ser esse muleque, que você ta sendo entendeu? Você pensa que eu e seu pai vamos viver pra sempre? Não digo nem eu, por que daqui a pouco ( lagrimas ) daqui a pouco eu me caso e tenho uma vida, uma vida que um dia eu pensei em ter com você, MAS VOCÊ COMO SEMPRE ESTRAGA TUDO...

Silencio e muitas lágrimas...

- Daqui alguns dias eu me caso, e não vou mais vir aqui ou em qualquer outro lugar te socorrer por que você fez alguma nova besteira. Será que você não pensa?

Eu já estava em prantos há muito tempo, tentei encostar-se às costas do Léo, mas ele se levantou, e ficou com a mão no rosto encostado na parede, alguns murros depois ele saiu batendo a porta.

Olhei-me no espelho e tive nojo...

Os dias se passaram, estava melhor, decidi ir visitar meu pai.

Cheguei em casa e como é bom sentir um cheiro de casa limpa, um chão limpo, um sofá limpo, almofadas, paninhos, flores, cheiro de comida, enfim, uma casa...

A Claudia me deu um sorriso daqueles, era domingo, meu pai fazia um churrasco no quintal, a Julia se divertia em uma mini piscina, um cachorrinho branco e magricelo, um Puddle, fazia a festa com ossinhos de borracha prensada.

Meu pai me deu um abraço forte e voltou a beber a latinha de cerveja e a espetar as carnes lingüiças (Trema I LOVE YOU) and asas que estavam na churrasqueira.

Brinquei um pouco com a Julia, que estava realmente feliz em me ver, toda a hora andava molhada pela sala, e ia até seu quarto pegar algum bichinho do MC Donald’s, sabe aqueles brindes do MC Lanche feliz, o pior sanduíche do mundo, que as crianças só comem por causa do brinde, ou suas bonecas e mandar eu levar pra casa.

Claudia conversou um pouco comigo, e insistiu muito para que eu bebesse umas cervejas com ela e com meu pai, que me fazia milhões de perguntas de como era morar sozinho e se eu estava gostando da experiência.

Almocei com eles, mas com certeza foi aquele salpicão cheio de maionese presunto batata palha e peito de frango que me fez mal no outro dia.


Fui até meu antigo quarto, que tirando os livros permanecia igual, olhei o computador, não tinha nada demais, peguei minha correspondência, e no fim da tarde fui embora.


Entrei em uma Lan House, olhei meu orkut, e vi que tinha um recado de uma prima que mora em Pernambuco, entrei no MSN e ela estava On Line, conversamos sobre milhões de coisas, até que ela começou a me contar da monotonia que continuava a cidade, eu já havia ido a Bom Jardim duas vezes, e até tinha uma paquerinha não iniciada, ali, conversamos tanto que decidi alguma coisa em minha vida, decidi largar tudo o que não tinha e tentar a vida em uma cidade com pouquíssimos habitantes, milhões de fofocas, meu estilo tão diferente dos demais...


Em uma semana resolvi tudo, meu pai ficou feliz, ia ficar com minha avó e ele novamente teria controle sobre meus passos, me olhou dentro dos olhos, me levou ao aeroporto, eu chorei, Claudia chorou, Julia chorou, e meu pai, bem “Homem não chora né?!”

Três horas depois eu repousava no aeroporto dos Guararapes( isso repousava, o vôo chegou 25 minutos antes e tive que sentar e esperar...), minha avó só apareceu 45 minutos após minha aterrisagem, tomei alguns cappuccinos, horríveis por sinal, eu havia errado mão no açúcar, até que ela surgiu, junto com um cara sem educação, que não falava comigo, e ainda por cima ligou um som bem alto e eu e minha avó que não escuta quase nada não podíamos conversar, o cara mora na cidade e minha avó o chamou pra ir me buscar ( é claro que tive que pagar 20 da gasolina e 30 por terem ido me buscar).

Cheguei a Bom Jardim e estava louco pra rever a tal paixonite aguda.

É uma outra história vocês querem ouvir?

A cidade como já disse é minúscula, bem pequena mesmo, algo que nem se imaginando algo minúsculo dá pra descrever o tamanho real da tal cidade.
Minha avó mora em uma ladeira, uma ladeira imensa, o nome do “bairro” é Nova Descoberta, mas para os mais íntimos ( em um lugar tão ‘grande’ todos são íntimos) ali é a Coréia.

Foi no ano de 2006 após não entrar na faculdade que decidi vir para PE com a idéia de tentar roubar vagas dos Pernambucanos, já que eles fazem isso aos montes com os Paulistas e os Cariocas, uma tentativa frustrada, diga-se de passagem, fui bem mal no vestibular...
Enfim, cheguei a Bom Jardim e não conhecia literalmente ninguém, salvo minha avó, e uma tia, que morou um tempo no Rio, de resto éramos todos um bando de estranhos, eles falavam português, isso é verdade, mas eu não entendia um terço do que eles tentavam me dizer e eu ficava nessa de querer saber as palavras e ria e eles riam de mim também, na verdade ‘mangavam’ mais de mim do que eu deles, é por que desde pequeno nunca soube me defender sozinho, sempre precisei de ‘patotinha’ sempre precisei de três ou quatro muleques atrás de mim pra me sentir o rei, isso é ruim? Eu adorava...
Então por eles estarem em um número maior, sempre me zoavam e eu quieto, os ouvindo rindo de mim, mas sabendo de que deveria ser o contrário, já que “Paitão” nunca vai ser patrão e que “Potcha” está muito longe de ser Porta...

Assim que cheguei, como disse não conhecia ninguém, então a única coisa que me restava para não perder toda a sociabilidade que possuía era ler, descobri rapidamente onde ficava a biblioteca publica da cidade e fiquei bastante amigo da bibliotecária, ela não era muito de conversar, e tinha um certo medo de mim, acho que por que os jovens não freqüentavam muito aquele lugar, e talvez por eu gostar de ler revistas velhas, a mulher não falava comigo e relutou bastante em fazer um cartão de sócio pra mim, acho que em seus desejos mais profundos, ela tinha a idéia que eu seria apenas um turista chato que em breve iria embora, mas depois que fiz o cartão, ela não fez uma cara animadora.

Ia e voltava da biblioteca, às vezes mais de uma vez por dia, passava pelas pessoas com a cabeça baixa, cantando musicas mentalmente e as sibilando imperceptivelmente, aos poucos comecei a dar uma volta na cidade na parte da noite, passei por um grupo de pessoas que dançavam alegremente sem musica alguma, passos ritmados um menino na frente ensinando, o mês era Maio, e os jovens (estranho falar isso, os jovens, afinal de contas eu sou um jovem né.) estavam ensaiando a quadrilha junina...

Como disse eles dançavam sem som, é eles não tinham um, comecei a fazer amizade, a emprestar meu microsystem, e ficar trocando os cd’s a dar pause e play quando o cara que ensaiava pedia, comecei a decorar os passos, e não foi estranho quando estava lá dançando também.

Fiz amizade com uma menina, conheci uma prima que era quase da minha idade e que é uma das pessoas mais maravilhosas que conheço no mundo, ficamos bem amigos, mas voltando a falar da amiga que conheci, ela um dia me convidou pra ir a uma feira de ciências, à noite.

Concordei e quando deu a hora ela passou pra me chamar, achei legal, figuras coladas em cartolina, grupos de alunos fazendo performances, jogos, e todas essas coisas educativas, o tema da feira não poderia ser outro, Copa do Mundo, andando pelos estandes, eu o vejo.
Não tão alto e nem baixo, cabelo curto cortado à máquina, poucos músculos, um nariz engraçado, corpo legal, sorriso franco, havaianas branco, bermuda preta e camiseta branca.

Olhou-me um pouco, eu olhei também, mas desviei o olhar. Trocamos algumas palavras quando minha amiga foi cumprimentá-lo. Nada de mais, achei estranha a forma insistente em que me olhava, mas não estava a fim de pensar naquilo.
Voltei pra casa, e fui dormir.
As manhãs em Bom Jardim são quase sempre entediantes não que as tardes não sejam, mas as manhãs têm algo especial, talvez pela sonolência, ou alguma coisa com os astros e a posição do sol possa explicar melhor, não sei, só sei que aquela manhã estava um pouco diferente, bem mais irritante e monótona do que de costume. A casa as minha avó é bem antiga, tem aquela cara de casa da vovó entende? Morávamos eu, ela e um tio, que não casou, a não ser com a bebida, essa sim era sua esposa ideal, minha avó dormia em um quarto ao lado do meu, a lâmpada era comunitária, já que o telhado era bem alro, e as paredes não iam até o teto, se eu quisesse ler a noite,. Não poderia, já que acendendo a luz de meu quarto, automaticamente acenderia a luz do quarto da minha avó... Mas aquela manhã realmente estava terrível, levantei, e fui dar uma olhada no tempo, um sol irritante, eu sei que milhões de pessoas jamais usaria o adjetivo irritante para descrever o sol, mas pra mim, quase sempre o sol é irritante, a não ser quando ele vem acompanhado de um frio maravilhoso, um par de óculos escuros magnífico, e uma câmera fotográfica com milhões de mega pixels, a um cabelo arrumado e uma boa companhia ao lado auxiliam bastante...

Mas uma vez voltando aquela manhã, decidi sentar um pouco no muito?! Hã? Como assim? Bem, O quintal da minha avó é bem grande na parte de trás ( por favor, isso não é nenhum trocadilho maldoso), tem até uma piscina ( parece um tanque, é verdade.), e tem algumas arvores, tem uma área verde, é bem grande mesmo, daí tem o tal muro que faz divisa com um terreno de um senhor que cuida de cavalos e de outros animais, só sei que nesse dia, nesse famigerado dia eu resolvi subir no tal muro e ficar sentado lá pensando na vida pensando nas coisas, pensando no mundo, enfim, nada mais confortável pra mim naquela altura da vida e no meio de milhões de pensamentos estar em cima do muro não é mesmo?

Sentar tudo bem, mas eu resolvi andar pelo muro, que era baixo, e se caso eu caísse tinha a grama lá pra amortecer a queda e não deixar que eu quebrasse qualquer músculo das nádegas estou eu caminhando, quando escuto.
- Cuidado pra não cair hein...
- Plaft!
É eu havia caído.
- Que boca hein.
Disse eu de um lado do muro.
- Machucou?
Disse ele do outro lado do muro.
- Não.
Disse eu subindo no muro.
- A ta beleza.
Disse ele olhando pra cima, já que eu novamente estava sentado no muro.
Quando olhei, era o mesmo carinha do dia da Feira de Ciências, o mesmo sorriso e os mesmos olhos, dava pra perceber que era um cara contido e tímido ao extremo, eu como sempre falante e cheio de piadas retiradas de seriados americanos, ele extremamente caipira e sem referencia alguma da cultura pop que eu tanto venerava, não entendia as piadas ou as tiradas sarcásticas, e naquele momento eu amava isso.

- Prazer. Me chamo Rodrigo, mas pode me chamar de Digo.
- Hum, oi, me chamo Lucas.

Foi basicamente essa nossa conversa, não me perguntou nada sobre mim, mas eu queria perguntar milhões de coisas sobre ele.

O tempo passava, e eu continuava ali, indo mais vezes ao dia, pra trás da casa da minha avó, e tentando ao máximo fazer amizade, até que as coisas foram conspirando a meu favor, quase sempre eu ia levar lavagem da semana para o curral que tem no quintal só pai dele começamos a ficar amigos, ele me chama lá em casa pra ajuda-lo com os animais, antes disso eu tinha medo de todo e qualquer animal, que não fizesse “au, au”, acabei, aprendendo a cortar capim, e também, a pentear crina, e a limpar chiqueiro, e até mesmo a ordenhar vaca ( mas leite nem pensar, não bebo aquilo nem pensar, nem fervido, amo a palavra “Industrializado”.

Ficamos muito amigos, de nos vermos três a quatro vezes por dia, ele me contava as coisas, me dizia que seu pai era um tirano e realmente era, ficávamos horas conversando sobre tudo.

Mas eu percebia que essa conversa toda só acontecia quando calhava de estarmos sozinhos, nunca em conjunto, nunca com mais alguém, quando acontecia, ele sempre ficava ora mudo, ora monossilábico, aos poucos fui percebendo isso, e um monte de outras coisas, como por exemplo, os olhares, as mãos pausadas as costas, as vezes seguidas que ia lá em casa, as vezes pra dizer algo que eu já sabia ou pra não dizer nada.


Fiquei na cidade por três meses, e nesse meio tempo precisava fazer algo pra conseguir dinheiro, decidi dar aulas de reforço pra criançada, era uma galerinha muito gente boa, que me deixava de cabelos brancos, mas que eu gosto bastante, até hoje falo com todos, e sempre que posso dou alguma coisa, e o lucas sempre ia lá, dar uma passada.


Ficamos tão amigos,q eu as pessoas começaram a comentar, não a comentar pouco, e sim muito, cidade pequena já viu né, as fofoquinhas começaram a surgir, e eu realmente não estava preparado pra aquilo, até fofocas internas tipo dentro da própria família existia. Até que em um sábado, no dia 19 de agosto de 2006 decidi sumir dali, disse tudo pro Lucas tudo o que diziam, eu sei que ele já sabia, mas pra me poupar talvez, não me disse nada, disse as coisas que diziam e todas as insinuações que faziam, ele só olhava pra baixo, me chamou pra ir até o pai dele, e uns quinze minutos depois me pediu pra ir embora.

Na quarta feira eu fui embora.


...



Voltei pro Rio, e a minha fixação pelo Léo também, deve estar todo mundo pensando que eu sou um verdadeiro cachorro, ou não sei mais do que devem estar me chamando, mas sei lá, já viu essas idas e vindas que ocorrem em milhões de filmes e novelas? Emtão, nessa época, não existia nada de tão concreto entre mim e o léo, ele ainda era o amigo hétero e fofo que todo carinha na minha ( ou seria na nossa?!) situação gostaria de ter.

Em maio de 2007 a GOL ( Propaganda. Linhas Aéreas Inteligentes) estava com uma promoção de 50,00 R$ por trecho, consegui comprar e fui passar 15 dias, na terrinha novamente, fui com o intuito de ver o Lucas e quem sabe rolar algo.

Cheguei a galerinha fez uma festinha de recepção, ele apareceu, ao invés de vir falar comigo, deu um beijo na namorada e ai sim apertou minha mão friamente.

Os 15 dias passaram rapidamente, voltei pra casa, e aconteceu tudo isso que relatei no Blog até aqui.




Dias atuais. Estou aqui novamente, o Lucas não fala comigo, e eu necessariamente acho isso ótimo, não sei o que um dia eu vi nesse carinha, estranho, sem graça, braços magros e um nariz, que Nossa....! ( Não isso, não são criticas de quem ainda gosta, são apenas criticas, ou você acha que um critico de restaurante quando critica alguma prato está criticando duramente por que gostou? Não mesmo né, ah, e só pra falar, minhas metáforas estão comestíveis, por que estou com Fome Ok?! Hehehe!)


Gente depois posto mais, prometo que não sumo mais, prometo que amo vocês ( eu sei não é pra tanto, é verdade que não é um amor de mãe, ou de namorado, ou qualquer outro amor que de tanto amor, ganhou uma data especial no ano, onde sem compra presentes, doces flores, e até chocolates [metáfora comestível, fome], mas é uma mor), prometo que venho com freqüência!


Comentem! Sei que ficou um Mega Post, mas leiam. Divirtam-se...

Lux cadê você?


Claudia Minha Médica, Saudades!

Julio, amigo do peito e esse coração?!


Garota ainda está magoada?
Aline, quero mais surpresas, como seu ultimo post! A gente ainda vai mochilar muito por este Brasil amiga!


Todos os outros leitores.. Obrigado!!!!!!!!!!!!!!!!

sábado, 2 de maio de 2009

Confesso


Depois de um longo e tenebroso inverno, cá estou, trazendo novidades até vocês!

Os dias estavam ficando normais, e até mesmo monótonos, ou não sei se eu é que estava em uma fase moderninha demais e que nada do que antes me deixava feliz conseguia me trazer nem ao menos o cheiro da antiga alegria.

Ficava horas à toa, até chegar o bendito momento de ir pra faculdade, e mesmo lá, em um lugar onde o que eu deveria fazer era aprender e encher minha fútil cabeça de cultura, uma cultura selecionada por mim, ainda assim eu continuava com esse ar blasé, de dono da verdade, da razão e da situação.

É claro que acho isso totalmente errado, e se estou fazendo essa análise clinica, crítica e patológica é por que decididamente estou de saco cheio de mim mesmo.

E isso de maneira alguma é motivo para que eu tente (mais uma vez) o suicídio.

Foi na sétima série que tudo aconteceu, estava em uma fase da adolescência onde os hormônios estão em fúria, mas é claro que isso não explica nenhuma insanidade que um adolescente possa cometer, e eu não estou tentando justificar a minha insanidade mor, usando as bobeirinhas que a galerinha pratica (sadiamente) na melhor fase da vida. (sei que muitos têm N teorias sobre qual é a melhor fase da vida, pra mim, por enquanto, é a adolescência.)

Eu lembro muito bem como foi aquele dia 04 de março de 2001, estava um calor insuportável, as pessoas derretendo na rua, e um sorvete de passas ao rum fazendo o mesmo na minha blusa do colégio.

Antes desse episódio do sorvete, eu estava em casa, minha mãe havia mexido nas minhas coisas, e tinha encontrado uma prova de matemática bem vergonhosa, eu lembro que era álgebra, é exatamente na sétima série que eles nos avisam que não é apenas com números que as contas podem ser feitas, é na sétima série que se divide a então única matemática em duas insuportáveis matemáticas, essa mutação alienígena acaba com a cabeça de qualquer pessoa que não consegue de forma alguma ter uma relação amistosa com essa matéria nazista.

Enfim, a Álgebra acabou com a minha vida, e quase que a danada fez isso literalmente. A Geometria era até um pouco mais legal comigo, mesmo ainda assim sendo uma chata.

Minha mãe mexeu nas minhas coisas, como eu já havia dito, e encontrou a tal prova, eram 7 questões e que eu havia acertado apenas 2 ou teria sido uma? Não lembro ao certo, tudo o que consigo me lembrar é que por causa da tal álgebra, um circo foi armado aqui em casa.

Minha mãe e meu pai viraram dois leões, eu fiquei no meio do picadeiro como um palhaço acuado, até que os gritos foram aumentando, e cada vez mais eu me sentia a pequenina foca no canto da sala, não houve agressão física, mas por pouco eu não tomava uns sopapos.

Enfim, aquilo pra mim foi à gota d’agua, na verdade aquilo foi apenas um pretexto pra poder por em prática um desejo que eu sentia desde pequeno.

Que coisa louca, mas é verdade, eu sempre tive dentro de mim, não sei se vou dizer curiosidade, vontade, desejo, intuito, ou uma adorável adoração em querer morrer!

Cruzes!

É verdade, algo me levava a ter esses pensamentos, e peço, por favor, aos religiosos de plantão que guardem para si todas as teorias sobre possíveis espíritos maldosas que rondavam minha mente naquele período nebuloso.

Não tinha uma explicação concreta pra aquilo, pelo menos eu o mais interessado e refém daquela situação não tinha.

Mas voltando ao sorvete que sujava minha camisa, então, sai de casa depois daquela briga tão comum em um monte de famílias por causa de uma nota baixa no colégio, com a impressão de que eu tinha a pior família, e de que era uma pessoa muito infeliz, e que o mundo ficaria muito feliz sem mim, e que eu era um boçal, e que não dava alegria pra ninguém e blá, blá, blá. Um monte de justificativas frustradas que os suicidadas tentam usar quando comentem a burrice de concluir de fato, a atrocidade que dá nome ao ato criminoso que ele comete contra si mesmo (rola até uma piada, anedota, enfim, uma frase dessas que todos conhecem, mas que ninguém sabe de fato quem é o autor, “Se ele é capaz de fazer isso com ele, imagina o que não faria comigo?)”.

Sai de casa aquele dia com raiva do mundo, mais raiva ainda do que toda a raiva que eu acumulava dentro de meu ser, fui até o centro, e fiquei andando sem rumo, já tinha tudo em mente, ia até um vendedor que sempre ouvia gritando na rua.

- Chumbinho, mata o rato e seca o rato! 2 R$.

Eu sabia também que esse produto altamente danoso aos roedores não podia ser vendido para crianças, mas ainda assim olhei bem pra cara do sujeito e pedi.

- Senhor me dá um frasco?

- Ele me olhou dos pés a cabeça, me deixando muito desconfortável, por dentro eu imaginava o por que daquele cara me olhar daquela forma, naquele meu momento de insanidade tive uma louca certeza que ele gostaria de guardar pelo menos uma ultima imagem minha.

- Eu não posso vender isso pra você.

Disse ele sussurrando.

- Mas não é pra mim, é pra minha mãe, disse eu sussurrando também.

- Ah, ta, se é pra ela, então me responda: “ela te disse quanto era o preço.”

Disse ele falando mais baixinho ainda.

Eu olhei pra cara daquele cara, que tinha os cabelos crespos, e a pele do rosto bem envelhecida em decorrência do exagerado sol que leva vendendo seus “produtos”. Olhei para as unhas dos pés, tão limpas quanto as águas do Tietê, olhei para o jeans imundo, e a camiseta de política ( ou seria politicagem?) que vestia.

Acabei respondendo baixinho.

- Disse, sim, ela me disse que era 2, 00 R$.

- Ah, então é verdade sua. Disse ele aumentando um pouco o tom de voz, e saindo dos sussurros para um falar baixinho.

Assim que dobrei a esquina com o frasco de veneno para roedor no bolso, ainda pude ouvir.

- Chumbinho, mata o rato e seca o rato! 2 R$.

Peguei uma Kombi dessas que no Rio rodavam aos montes fazendo às vezes de transporte alternativo, desci na porta do colégio, minha blusa que deveria estar branca, era de um amarelo melado, o sorvete havia feito um verdadeiro estrago.

Subi correndo e consegui chegar a tempo no 2º tempo de português, a professora Glória quase não me deixa entrar, mas acabou concordando com uma cara bem feia que eu sentasse em meu lugar.

E foi o que fiz meio que correndo, fiquei olhando tudo pela ultima vez, os cabelos brancos da professora Glória, os óculos grandões que ela usava, o cabelo curtinho com um monte de fios brancos, a sala que ela dividia com a professora Neliana também de português, totalmente mulherzinha, cheia de paninhos e babados, observei tudo o que podia pela ultima vez.

Foi ai que bati meus olhos no Léo, olhei bem pra ele, comecei a procurar defeitos, qualquer coisa que o me deixasse com bastante raiva dele e que me fizesse sentir ódio mortal, e que isso servisse como mais uma justificativa para o que eu estava preste a fazer.

- E ai Rodrigo, chegou atrasadão hein cara!

O suor me consumia mais que o normal, limitei-me a responder com a cabeça indicando qualquer sinal.

- Por que se ta suado e sujo desse jeito?!

- Hã?

- É, olha tua blusa cara, aconteceu alguma coisa? Posso te ajudar?

- Não cara, ta tudo bem, se preocupa não! Isso aqui foi o sorvete, nada de mais...

Ele pousou aqueles olhos avelãs em mim, ficou um bom tempo me olhando com uma espécie de dó intuitivo, abaixei a vista e fitei a beleza abstrata que o chão cheio de papel de bala, ponta de lápis e bolinhas de papel cultivava.

Decidi que não podia esperar muito, que não era hora de me acovardar, pedi a professora Glória para ir ao banheiro, ela me deu um olhar de interrogação, na verdade era um absurdo eu ter chegado na metade da aula e ainda querer ter o luxo de achar que tenho algum direito sobre minhas necessidades fisiológicas.

Depois de um incomodo e longo contato visual ela permitiu que eu fosse ao banheiro.

Antes de qualquer coisa lavei meu rosto naquele imenso tanque de louça antigo, cheio de torneiras e nomes pichados pelos alunos.

Fiquei algum tempo olhando o movimento que à água fazia enquanto batia nos ladrilhos e ia para o ralo.

A iluminação do banheiro era meio precária, e toda a luz que entrava, vinha da janela que tinha bem no canto da parede, procurei o vidro com as bolinhas assassinas em meu bolso, fitei aquelas minúsculas partículas dentro do pote branco que parecia com os compartimentos que antigamente guardavam filmes fotográficos. Coloquei uma boa quantidade nas mãos, olhei meu rosto refletido no tanque, e ingeri.

Deixei um tempo na boca sem engolir, o gosto de ferro era insuportável, de repete, desisti subitamente daquela loucura, cuspi tudo na pia, e bebi bastante água, talvez por isso consegui sentir que havia engolido uma boa parte da quantidade que estava em minha boca.

Voltei pra sala, quinze minutos depois, logo que entrei tocou o sinal do intervalo entre as aulas. Desci junto com a turma, e o Léo insistindo que havia acontecido algo comigo, e tudo o que fazia era me limitar a dizer que estava tudo bem.

Comprei um guaraná natural, sentei em um canto qualquer e comecei a pensar na besteira que há pouco tempo queria cometer.

Alguns minutos depois voltamos pra sala, sentei me ao lado do Léo como sempre.

Olhei bem nos olhos dele, que permaneceu este contato por um tempo, mas depois desviou.

Olhando pra frente, comecei a conversar com ele.

- Sabe, aconteceu sim uma coisa.

- O que foi? Fala!

- Eu tomei chumbinho.

Gargalhadas, algumas batidas na mesa, e um...

- Para de graça Digo, presta atenção na aula.

Minha reação foi ficar mudo.

Prestei bastante atenção nas palavras do professor Américo.

Até que veio o segundo pedido para ir ao banheiro, tinha tudo para o professor dizer não, já que tínhamos acabado de chegar do intervalo, e a política do colégio era totalmente severa com alunos circulando a toa pelos corredores.

Foi então que recebi mais um de meus incontáveis “SIM” daquele dia.

Fui até a secretaria e disse que estava passando mal.

Cheguei na imensa secretaria, um monte de mesas distribuídas frente a frente, pessoas trabalhando e não levantando o rosto por nada totalmente submersos em pilhas de papel e telas de computadores.

Caminhei até a ultima mesa, aquela do diretor, olhei bem em seus olhos, e disse.

- Hamilton, acho que estou meio indisposto,

Ele riu meio sarcasticamente.

Ainda existem pessoas que pensam que jovens não tem indisposição, em seu discurso e pensamento limitado tem certeza que um adolescente apenas pelo fato de não trabalhar não tem o por que de estarem estressados ou de saco cheio do mundo.

- Indisposto? E o que seria isso? Excesso de trabalho?

Essa frase veio cheia de sorrisinhos, tudo o que eu queria era que aquele cara me ignorasse e começasse a mexer em seus papéis, que me mandasse sentar em alguma cadeira e ficasse ali quietinho sem o importunar com minhas sandices.

Mas não, ele ficou brincando com seus óculos e me observando atentamente...

Por longos segundos...

- Acho que deve ser apenas uma dor de cabeça.

- É acho que deve ser isso. Disse ele mandando eu me sentar em qualquer cadeira e voltando a fazer as coisas que ele deveria fazer ao invés de querer descobrir possíveis planos suicidas na cabeça de seus alunos.

Sentei me, esperei, olhei para o relógio, mexi nas coisas, li anúncios, levantei, sentei novamente, abri e fechei a bolsa, até que meus músculos começaram a tremer, tremer muito, primeiro foram meus braços, era uma sensação estranha, parece que tinham ratos muito grandes andando em mim, depois foram às pernas, e ai o corpo todo se movia como um imenso e magro liquidificador, mas o pior disso tudo, era que só eu sentia isso, as pessoas não percebiam e nem viam o imenso liquidificador que eu havia me tornado, e de repente eu pensei qual seria a graça de ser um liquidificadorzão, se ninguém ouvia todo o barulho que eu conseguia fazer...

Talvez pelo ódio que aquele desprezo todo me causou, comecei a vomitar toda a sala, arremessei longe minha mochila, o vomito vinha como uma cascata, minha barriga doía muito, uma dor insuportável, mas que eu suportei, as pessoas começaram a ficar desesperadas, o diretor me olhou com medo, o único olhar que eu dirigi a ele foi “ me ajude”!

Levaram-me até o limpo e branco banheiro dos professores, tomei um banho e fiquei alguns minutos debaixo d’agua.

Até que fiz um pedido aos céus, eu não sabia rezar, meus pais são ateus, eu nunca quis rezar, mas não faço idéia de como o “Pai Nosso” era balbuciado por mim, até que uma luz entrou no banheiro, sei que pode parecer loucura, mas é a mais pura verdade, eu fiz um pedido, e nesse tempo um vento quente e uma luz forte tomou conta do banheiro dos mestres.

Não senti medo, e naquela hora, não estava acontecendo nada extraordinário para mim.

O léo entrou correndo e chorando, disse que não tinha acreditado em min, contou para todos da sala, eu desmaiei, todos os alunos foram liberados, fui para o hospital com o diretor, uma inspetora chamada Dona Conceição, outro chamado Seu Zé, e o Léo e uma amiga nossa chamada Milena, não lembro de muita coisa que me disseram no carro, só sei que perguntavam se eu havia ingerido veneno, e com a cabeça e a boca espumando, disse que sim.

Entrei no hospital, e quando acordei meu pai estava lá, minha mãe recém operada do câncer no seio nada sabia, de repente uma enfermeira grossa, enfiava uma borracha verde em meu nariz, e meu deus, como aquilo doeu, fiquei 3 noites no hospital, algum tempo sem ir para a escola, sendo visitado muitas vezes pelo léo...

Visitas constantes a psicóloga, milhões de perguntas sobre o relacionamento com meus pais, tentativas frustradas de saberem o por que deu ter tentado por fim em minha vida, é óbvio que a história da prova de álgebra não colou, mesmo sendo ruim em matemática eu tinha notas boas, parecia que a psicóloga de nome Assíria, tinha certeza que havia outros motivos que me levaram a fazer aquilo.

Fiquei um ano me consultando, um ano inteiro, nesse ano as pessoas pararam de me olhar e de perguntarem o por que deu ter feito aquilo, esqueceram, é claro que sempre tinha algum inconveniente que tocava no assunto, ou ficava me olhando com medo como se eu fosse louco,

Consegui contar pra vocês um segredo que nenhum de meus novos amigos sabe, enfim, liberdade...

quarta-feira, 22 de abril de 2009

O mínimo sobre o amor By Lir

Olá Gente!

Sou Lir, a mais nova colaboradora deste lindo blog!

Minha proposta é escrever sobre o mínino. Neste primeiro post pensei em contrapor alguns pensamentos sobre o amor, já que, falar sobre ele, pelo que ví, é a principal característica desse blog.

Sendo assim, as vezes me parece que o amor tem regras, tem limites de prazer. Uma tal contramão que sobrepõe os atos sinceros. Mas o que há nisso td? O que há com tds essas pessoas que tanto falam de amor e juram amor e no final-na hr em que deveriam-quem sabe amar com respeito, honestidade, um amor próspero? Afinal, o amor não é um jogo...Será?

Eu passei tanto tempo repetindo a afirmativa acima, que no exato momento que me encontro, se me encontro, encontro-me em dúvida.

Se o amor for um jogo é um covarde em que pessoas se manipulam buscando prazer p seus corpos e almas, buscando delírios lícitos que ocupem as lacunas vazias. É então um jogo de busca, um pique-pega adulto-adolescente-Para viver dessa dessa forma recuso esse sentimento.

E se-como sempre o E se, portador das dúvidas inconfortáveis, surge com uma contraditória teoria- E se não? E se o amor não for um jogo e nesses dias eu-de fato-parei para o mundo, e mts como eu pararam, e me afoguei em tolices? E se na verdade cada movimento tenha sido espontâneo, mesmo os crueis?? E se a inocência for a nossa única culpa, razão e resposta?

Beijos Galera =*.*=

Me digam tb a reflexão de vcs :)

Lir

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Dica!


Oi Galera tudo bem? Infelizmente faz um tempo que não apareço aqui, e deixo vocês aflitos e sem noticias, antes de qualquer coisa estou bem, as coisas estão começando a acontecer e isso é realmente bom!
O Léo continua comigo nessa caminhada em direção de nossa felicidade!


Deixo com vocês um pedido, leiam mais, e lembre-se que o passado pode dizer muitas coisas de nosso futuro, e quando não o faz, simplesmente nos mostram o que não devemos tornar a fazer errado!


Uma dica de leitura!



O MENINO DO PIJAMA LISTRADO.


Leiam com lenços!

quinta-feira, 26 de março de 2009

TUD, MENOS A ESPERANÇA!!!!!

Para as pessoas que não me conhecem, meu nome é Claudia. Conheci o Rodrigo, lá no grupo do orkut, "O Segredo de Brokeback Mountain". Lá, conheci sua linda, e às vezes trágica, doce, louca, e intensa história de amor. Uma das coisa que mais de chamou a atenção para ela, foi a amizade, o carinho e a esperança.

O Rodrigo sempre depositou muita esperança nessa relação, de amizade e de amor. E o Leo, nos conquistou com sua demonstrações de determinação e coragem. Tudo o que aconteceu não seria nada sem a esperança de tudo se ajustar, se acertar, se encaixar. E é isso que quero que vocês agarrem, pois o ditado é mais que verdadeiro. Depois que a esperança se vai, não resta mais vida!

Então, um pouquinho de mim mesma, pra vocês...


Sem Todas as Coisas

Sem o sol, tenho a lua
Sem a lua, tenho as estrelas
Sem as estrelas, tenho as nuvens
Sem as nuvens, tenho o mar
Sem o mar, tenho a terra
Sem a terra, tenho as palavras
Sem as palavras, tenho a melodia
Sem a melodia, tenho o olhar
Sem o olhar, tenho as mãos
Sem as mãos, tenho o sonho
Sem o sonho, tenho a esperança
Sem a esperança...
Não tenho mais nada.



beijos enormes de estréia no pedaço
Clau

sexta-feira, 20 de março de 2009

Léo and Me carnaval e N coisas Fim.


Aquela segunda feira não lembrava em nada o domingo que a antecedeu, é bem verdade que o calor insuportável permanecia, a casa estava quieta, e meu quarto tinha um aspecto sepulcral, mas em mim, e somente em mim, algo gritava em demasia.


Olhei em volta e não reconheci meu quarto, nada do que tinha ali me despertava qualquer sensação familiar, parecia que não me satisfazia mais aquele bando de coisas.


Desci as escadas de madeira calmamente, meu pai e a Cláudia tomavam café em silêncio, um em cada extremidade da mesa de 8 lugares que minha mãe havia feito em um marceneiro que já havia morrido, vira e mexe a Cláudia pensa em vender aquilo que ela chama de “ elefante branco”, e se não fosse por mim, meu pai com certeza já teria permitido que isso acontecesse.


Passei por eles e esbocei um bom dia que não houve resposta, fiquei um tempo olhando a geladeira e pensando, não havia nada que me interessasse, retirei a caixa de leite, peguei uma travessa no armário branco que fica em cima da pia, misturei o leite com o cereal de milho, sentei me na mesa, peguei duas bananas da fruteira que estava no centro do “elefante branco”, fiz minha mistura e peguei o segundo caderno do jornal o globo que se esparramava sobre a mesa.


Eu sentia que era observado por dois pares de olhos, mas ainda assim, não retirei minhas vistas do jornal, que pra dizer a verdade não havia nada de interessante.


Acabei enjoando de fingir que lia algo.



- Ta ok gente, aconteceu alguma coisa?



Disse isso assim, na lata, e se fosse impressão minha e ninguém estavivesse realmente me olhando, no máximo iam pensar que eu estava doido.



- A Vanessa ligou.



Meu pai disse isso, depois retirou os óculos e enxugou as vistas demonstrando cansaço.


Engoli a seco.



- E o que foi que ela disse?


- Queria conversar com você, eu disse que você não estava, e ela acabou conversando comigo...


-... E o que vocês conversaram?


- Na verdade, eu mais ouvi do que falei, eu tava com, humf, eu estava com vergonha.


Minhas mãos começaram a escorregar da colher, o suor que descia de minha testa era frio, minha garganta estava seca, nem todas as colheradas de cereal que ingeria loucamente conseguiam acabar com aquela sensação de cansaço



- Sabe Rodrigo, tudo o que eu menos queria nessa vida era estar tendo essa conversa com você.


- Que conversa pai? Até agora eu não estou entendendo nada do que o senhor está querendo me dizer.



Não pensem que sou falso, ou dissimulado, é óbvio que eu sabia o que viria por ai, mas eu era o que menos queria que meu pai tivesse “essa conversa” comigo.



No meio do meu discurso, um pigarro forte e insistente permanecia.



- Henk, Henk...


- Você fica na sua hein Claudia.


- Quem tem que ficar na sua é você, fazendo seu pai passar vergonha!


- Que vergonha que eu fiz ele passar.


- Que vergonha Rodrigo? Se ainda tem coragem de negar...


Meu pai foi ficando vermelho.


- Você trocou sua namorada por aquele marmanjo...


- Arthur, calma você vai passar mal.



Meu pai sentou-se na cadeira novamente, eu fiquei em pé, chorando feito um idiota, acabei sentando também.



- Cada dia que passa eu não vejo mais isso aqui como casa, e nem o senhor como pai, tem um monte de estranhos aqui...


- A porta da rua é a serventia...


- Você pensa que eu não tenho pra onde ir? Eu nunca pensei que o senhor fosse falar isso, eu não to fazendo mal a ninguém entendeu, mal a ninguém!


- Só a você mesmo, e a todos a sua volta, da mesma forma que você iludiu a Vanessa, você cai iludir o Leonardo! Eu não te entendo.



- Pode ficar com a sua casa, pai, eu to indo nessa!


- Se for não volta!


- Pode deixar!



Olhei pros olhos da Claudia, por um minuto eu vi ternura, pena, arrependimento.



Sai da cozinha com o choro do meu pai nos meus ouvidos, um choro preso, um choro infantil que não combinava em nada com a figura dele, aquilo me bateu uma dor, tão grande, tão intensa, que tudo o que eu queria era abraçá-lo, dizer que o amo.



A Claudia também chorava, de repente todos se tornaram mocinhos, e eu virei um grande vilão...



Entrei naquele quarto e peguei a maioria das minhas coisas, taquei tudo em bolsas e mochilas, em uma hora eu estava descendo as escadas, a sala estava vazia, fui em direção a porta, a Julia veio correndo e se agarrou em minhas pernas, a Cláudia, beio pega-la.



- Rodrigo, esfria essa cabeça.


Eu olhei bem nos olhos dela, que se manteve firme, e continuou o contato visual comigo.



Abri a porta.



- Pela sua irmã, não vai...




Segui meu rumo sem saber pra onde estava indo, sem saber de nada, passei em frente à casa de uma vizinha, que me viu crescer, contei uma versão da história, a minha versão da história, ela pediu que eu deixasse as coisas ali para que eu pudesse esfriar a cabeça.



Agradeci, por seu gesto.



Peguei uma mochila e coloquei algumas peças de roupas, meu destino era não ter destino, eu estava sem rumo, pensei em ir pra casa do Léo, mas ai eu ia alimentar mais os comentários lá de casa, e essa desconfiança certeira, ia aumentar.



Acabei ligando para um amigo que havia tempo que não procurava, sabia que o Ygor estava morando sozinho em Santa Tereza, e sabia que ali eu teria um abrigo pra pelo menos pensar um pouco melhor.




- Alo, Ygor?


- Alô, quem é?


- Sou eu muleque, o Rodrigo.


- Rodrigo, Rodrigo... Digo?


- Isso ai.


- Caralho cara, quanto tempo hein muleque...


- Verdade, cara, antes que você pense que eu só te procuro quando preciso, e já que nesse caso isso é verdade, será que eu poderia ficar uns dias ai na sua casa?


- Hã? Claro, pô, mas o que foi que aconteceu?


- Cara é uma história longa, quando chegar ai eu te conto, pode ser?


- Já é Mané, se sabe o ônibus que pega né?


- Sei sim...


- Então, cara, vai andando até a Petrobrás, depois só pegar o bonde e você, ta aqui!


- Valeu Ygor, brigado cara.



Desliguei o telefone, e fui andando pro ponto de ônibus, o calor como já disse estava insuportável, todo o meu dinheiro se resumia em 63,00 R$, eu até tinha um pouco mais na conta, mas ia ficar lá até que eu resolvesse tudo isso.



Cheguei na casa do Ygor, a sala era bem arejada, tinha uma janela imensa, umas almofadas no chão, um sofá laranja, um gato malhado descansava no gelado piso de madeira, mesmo sendo a casa de um muleque, até que era bem arrumada, e tinha uns panos no sofá que davam um aspecto de “casa da vovó”.



O Ygor atendeu a porta, expliquei tudo pra ele, que disse que eu poderia ficar o tempo que precisasse mas que se passasse de dois meses ele ia me cobrar metade do aluguel, falou isso rindo mas eu sei que era sério e eu sei que era justo.



Depois que o Ygor deu uma saída eu liguei pro Léo.



- Léo?


- Fala filho, tudo bem?


- Nem ta tudo bem Léo...


- O que foi que houve? Onde se ta?


- Cara discuti feio com o meu pai véio, to na casa do Ygor.


- Que Ygor? Ah ta beleza. To indo pra ai.



20 minutos depois ele apareceu, boné preto, bermuda branco, um tênis adiddas com listras pretas, e uma blusa gola pólo amarela.


Aquele abraço apertado, estava sendo uma das coisas que eu mais precisava nesse meio tempo.



Sentamos no sofá, e ficamos um tempo quietos, eu comecei a chorar pra variar, o Léo ficou com as mãos no rosto, me olhando com uma cara de compaixão.



- Tive uma briga feia com meu pai cara. A Vanessa ligou pra lá e disse que eu tinha terminado com ela pra ficar com você...


- Putz!


- Daí meu pai, começou a falar milhões de coisas, e pra mim não ter que discutir este assunto, decidi sair de casa.


- Sei nem o que dizer brother. Arruma suas coisas, vamos lá pra casa.


- Não Léo, prefiro não dar motivos pra que rolem mais comentários e tal. Sem contar que daqui a pouco é seu pai que começa a falar as coisas...


- Rodrigo, meu pai e meu irmão já sabem de tudo.



Fiquei um tempo em silencio, meus olhos fitaram o sofá alaranjado, meus pés começaram a deslizar pelo piso de madeira, o suor havia voltado, meus braços descansavam em minhas pernas abertas.



- Tive que contar pro meu pai, não agüentava mais ter que mentir pra ele.



Quieto eu estava e assim permaneci, não sabia o que dizer, sentimentos estranhos, que eu quase nunca sinto, de repente vinha correndo em direção a minha índole. O Léo entendeu o meu silencio como um “pode continuar”, e foi o que fez.



- Uns dias antes, de a gente viajar pro Sul, eu fui falar com meu pai, entrei na sala dele, e o Caio (irmão do Léo) estava lá, na hora eu hesitei em ter essa conversa, mesmo ele sendo meu irmão mais velho, sei que é mais difícil de entender as coisas, mas mesmo assim eu disse, falei que continuava sendo o mesmo, só que tava apaixonado por você e que nós estávamos namorando.



Eu até tentava falar, mas as palavras simplesmente não vinham, dentro de mim eu sabia que deveria estar feliz, mas isso também não acontecia.



- O Caio como eu previ não levou muito bem, saiu batendo a porta, meu pai abaixou a cabeça, e depois perguntou o que ele podia fazer.



- “O que eu posso fazer Leonardo? Você é maio de idade, trabalha, assume suas responsabilidades, nunca me deu dor de cabeça, é claro que isso não deixa nem um pai feliz, mas o que eu posso fazer? Mas eu só vou te avisar uma coisa, se algum amigo meu vier me contar que te encontrou no calçadão, vestido de mulher e usando peruca, eu juro que te mato.” Eu comecei a rir na hora digo, meu pai riu também.


- “Pode rir, mas eu to falando sério!”.



- Um dia antes da gente partir, o Caio entrou no meu quarto e disse, que nunca ia aceitar isso, mas que ia aprender a conviver, só por que a gente era irmão e não sei mais o que, perguntou quem comia quem, eu disse que a gente ia meter a porrada nele, o clima ficou ameno, mas eu tenho certeza que ele vai sempre soltar alguma piada e tudo o mais.



- Por que você não me contou isso antes?



- A primeira coisa que pensei em fazer quando sai do trabalho foi te ligar, te dar a boa noticia, dizer que nós não precisávamos mais ter medo, que dali pra frente seria tudo mais fácil. Só que depois eu pensei que não seria legal, eu ia acabar te pressionado, e sem querer te influenciar a fazer uma besteira, e sei lá ir te ajudando a conversar com seus pais, aos poucos.



Dei um abraço nem forte no Léo, eu percebi naquele momento, que o amava mais que tudo, me deu uma dor forte no peito, ficamos assim, por um bom tempo.



O Léo dormiu na casa do Ygor aquele dia, na manhã seguinte, tomou café com a gente.




- Eu tinha certeza que você ia dormir aqui Léo.


- Por que Ygor?


- por que tu tem ciúme do Digo né...



O ataque de riso foi geral, o Ygor foi trabalhar, o Léo só volta no dia 31 desse mês, na quarta feira, um dia antes do meu niver, eu voltei pra casa.




Meu pai chegou de carro na casa do Ygor, a gente conversou, e eu acabei indo de colta a meu lar, entrei no quarto minhas coisas estavam todas lá, meu pai deve ter pego na casa da vizinha.


A Claudia me ajudou a dar uma geral no quarto.



Fiquei horas na internet aquela quarta feira, eu tinha certeza que o Léo a meia noite ia me ligar, ou vir aqui em casa, era meu aniversário, ele sempre fazia isso.




Duas horas da manhã e nada do Léo dar sinal de vida, toda hora eu atualizava a caixa de entrada do meu e-mail, ouvia toques inexistentes de telefone, fiquei andando de um lado pro outro, fui até a cozinha, bebi água mesmo sem ter vontade, liguei e desliguei a televisão, voltei pro quarto, tentei ler um livro, acabei pegando no sono...



A quinta feira do dia 12 de março estava linda, eu tinha oficialmente 22 anos, desci as escadas morto, havia dormido mal, uma dor nas costas do cão, peguei uma maça e voltei pro quarto, não tinha ninguém em casa, voltei pro quarto e tomei um banho frio, fiz algumas flexões, ouvi musica alta, escrevi um monte de coisas, sai de casa, dei um role no calçadão, quase que eu entrei no mar, mas não era pra tanto, voltei pra casa, era umas 14:00. não tinha ninguém em casa, nenhuma chamada perdida em meu celular, nenhum SMS, nenhum e-mail, nada...



Comecei a pensar que estava pagando por todos os meus pecados, ( shaushashu), fiz um ovo frito e comi com pão Frances e guaraná Antarctica, 16:00 horas e nem a Cláudia aparecia em casa, pensei em me arrumar e sair, sei lá, dar mais uma volta, ir ao parque lage, correr um pouco, fazer qualquer coisa, menos ficar ali curtindo aquela fossa.



Acabou que não fiz nada disso, subi as escadas e continuei lendo um livro chamado “ Os contos de Beedle o Bardo” é da J.K. Rowlling, eu até já havia lido, mas como não tinha muito o que fazer, decidi encher-me com aquela deliciosa cultura inútil.



As 19:00 horas meu celular toca, olhei pela janela, e lá estava o carro do Léo, fingi que não vi, e atendi o telefone.



- Alô.


- Rodrigo...


-... E ai, ta aonde.


- para de ser seboso, que eu ti vi ai na janela.


Eu ri


- Sabe que eu to boladão com você né?!


- Por que? Eu que to boladão com você!



Será que o Léo tinha esquecido meu niver?



- Hã? Nada Léo, por nada.


- Vai descer ou não vai?


- Vou não!



Escutei de longe o barulho do carro cantando pneus, não entendi nada, fiquei mais bolado ainda, fechei a droga do livro, e não tinha ninguém em casa, será que meu pai decidiu sumir logo no dia do meu aniversario?



Fiquei na sala, deitado no sofá, pensando milhões de coisas, as luzes estavam apagadas, voltei pro quarto, e me arrumei, eu ia dar um role, sei lá ir a lapa, o que eu não queria era ficar ali daquele jeito, quando to acabando de dar um jeito no meu topete com gel, o telefone toca de novo,



- Rodrigo?


- Oi....


- É a Vanessa!


Mudo.


- Eu sei que você deve estar morrendo de ódio de mim, mas eu não agüentei e contei pro seu pai...


- Ta beleza, eu não tenho ódio de você, eu entendo o mal que te fiz...


-... Cara eu gosto tanto de você, mas sei que você e o Léo, combinam, mas tu num imagina como essa sensação é ruim.


- Sei nem o que te dizer.


- Não, precisa falar nada, feliz aniversário!


- Obrigado.


- Posso passar ai pra te dar um abraço?


- Eu to de saída.


- Entendo, vai sair com o Léo?


- Não, vou a lapa, ta afim de ir?


- Pô não vai dar, hoje eu vou sair com meu namorado.


- Ah se ta namorando?


- Uhum...


- legal.


- Mas você vai passar seu niver sozinho?


- fazer o que...


- Se tivesse comigo...


Risos em conjunto.


- Palhaçada, digo, outro dia eu vou ai então.


- Já é Van!



Desliguei e me senti bem, foi legal as coisas terem acabado dessa forma, até percebi uma brecha para sermos amigos pelo menos.



Eram 21:00 quando meu pai chegou, ele Cláudia e Julia dormindo, me deram os parabéns, meu pai e a Cláudia me deram uma camiseta, e trouxeram uns brigadeiros grandões desses que vendem em shopping.



Perguntei onde eles estavam a Cláudia tinha ido à casa de uma prima, e meu pai tava trabalhando.




Fui saindo de casa em direção ao ponto, dei meia volta, eu tinha que saber o que estava havendo com o Léo, chega de dar uma de pirracento, todos me diziam que eu ia acabar perdendo-o, e sem contar que eu não estava em posição de me fazer de bonzinho.



Toquei a campainha algumas vezes, ele veio atender, estava de all-star, uma calça jeans, surrada, sem blusa, entrei, e ele estava assistindo televisão.



- Vai sair?


- Eu ia à lapa.


- Fazer o que lá?


- Comemorar meu aniversário.


- Legal.


- Como assim legal?


- Quem é Deryck?


Fiquei sem reação, sem saber o que dizer...


- Anda, fala quem é Deryck.


- Deryck é o catinha que a gente conheceu no sábado.


- Que a gente conheceu uma ova, que você conheceu.


- É, mas você também o conheceu.


- Não tanto quanto você, pelo menos ele nunca me mandou nenhum e-mail.



Subiu as escadas e voltou com duas folhas, começou a ler os e-mails que troquei com o Deryck.



- Não acredito nisso, Léo... Você leu meus e-mails.


- Para, você também tem a senha de todos os meus e-mails.


- Mas eu nunca entrei em nenhum deles, você que fez questão de me dar só pra ter as minhas.


- Não importa, cara, você tem noção do que você faz? Você tem noção das coisas graves que você faz, e pensa que são coisas normais e aceitáveis. Eu já até sei que você vai começar a soltar milhões de lágrimas de crocodilo, e depois vai ficar mal esperando que eu o console.


Mas hoje vai ser tudo diferente, eu não quero mais ser enganado, sabe cara, hoje faz 7 anos que a gente se conhece, e aos poucos eu percebo que quase não o conheço.



- Eu ia te contar isso tudo amanhã, eu não ia esconder isso de você, pode ter certeza, nesses e-mails não tem nada de mais, são coisas banais.


- Aqui não tem nada de banal, só diz que a noite foi maravilhosa, e você dizendo que tinha adorado conhecê-lo.



- Antes que você pense mil coisas, eu só beijei esse cara, da mesma forma que você fez com a menina lá em Chapecó.



Ele ficou assustado, me olhou com dois olhos de coruja.


- essa é a diferença Léo, eu não comentei com você por que sabia que aquilo não significava nada pra você era tesão apenas. Você pensa que eu não via você saindo de mansinho, eu sofria é claro, mas sabia que se voltaria e que ficaria tudo bem, eu não sou forte, eu me faço de forte.



- Jamais ia comentar isso com você, mas enfim...



- É diferente Rodrigo.


- É, eu sei, no meu caso teve e-mails, no seu não.


Ficamos em silencio por horas, esse foi meu aniversário, estamos juntos, mas a situação não está como antes.



Ultimamente fui bombardeado com uma quantidade imensa de criticas, gostaria de dizer que sou um humano, é claro que entendo que os leitores, ou espectadores, que seja, tem por hábito, para ficar mais fácil o entendimento de uma história, de classificar os personagens da mesma, como mocinhos, e vilões, mas antes de tudo, gostaria de dizer que isso não é uma história, isso é a minha vida que estupidamente tenho a coragem de compartilhar com vocês, não existirá um fim até que eu venha a falecer já li que sou um bom autor de novelas, e que fico guardando o clímax para os próximos capítulos, mas isso não é verdade, eu fico horas aqui escrevendo e mostrando pra vocês, e tentando mostrar pra mim que nada é fácil nessa vida, as histórias de amor acontecem, mas não são contos de fada.


Se eu estou sendo o vilão, ou o mocinho, depende da opinião de cada um.


Como disse sou um ser humano com todas as minhas complexidades, por favor, me entendam!



Obrigado por estarem comigo, em breve trago mais noticias.



* A Claudia é mais uma colaboradora do nossas coisas, Hoje a noite ela entra oficialmente, Seja bem vinda!