terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Nossas Crônicas...

Alessandro não tinha muita certeza das coisas que sentia, todas essas emoções faziam parte de um mundo novo, detestava a idéia de ser diferente.
As emoções eram tã
o fortes, ele se sentia tão sensível, a ponto de levar as mãos ao rosto quando em algum filme ou novela, acontecia uma cena onde o clímax era intenso.
Alessandro tinha 14 anos quando descobriu que não conseguia ser apenas, amigo, de Paulo. Os sorrisos em conjunto, os segredos compartilhados, os momentos de alegria e aflição. Tudo era muito inte
nso e do alto de seus 15 anos decidiu que não precisava mais mentir, pelo menos não para ele mesmo.
Porém, tudo o que não queria era ser tratado como alguns meninos do colégio, não conseguia ver-se na pele dos muleques que sofriam na mão dos caras que se diziam normais.
Foi ai que preferiu continuar mentindo... Até para ele mesmo...
Permaneceu nes
se jogo de falsas emoções, desejos e sentimentos até os 19 anos, nessas quase duas décadas de sua vida, comeu pelas beiradas tudo o que lhe era oferecido.
É claro que todos os amigos sabiam que ele não era igual, é claro que não conheciam o porquê de sua diferença, mas a verdade é que ninguém
tinha o talento de Alessandro para com a música, ninguém conhecia pelo menos a metade dos autores que ele citava em suas inúmeras frases de efeito dentre as outras múltiplas facetas pelas quais ele demonstrava aptidão, sendo estas artísticas ou não.
Aos 20 anos chegou a faculdade de jornalismo, conheceu todos os tipos de pessoas
, freqüentou todas as tribos, usou todas as drogas, mas até hoje, diz que a cocaína foi a que menos gostou. – Me deixava esperto de mais... -
Aos 25 anos começou a trabalhar em um jornal de grande circulação, pena que a coluna que assinava era a menos lida, já que não eram todos os dias que as pessoas compravam carros e casas, já que Alessandro escrevia os classificados..
Acabou se matriculando em um curso de fotografia, mas infelizmente só trabalhava em casamentos e festas infantis, chegou a criar repulsa por cachorro quente, pipoca, e gelatina em copinho, bolo, então, até come, mas: - Sem glacê. Obrigado-.
Chegou um dia que enjoou da vida de fotógrafo e percebeu que precisa urgentemente de uma nova e rentável profissão.
Decidiu vender a câmera profissional que possuía.
Pegou um ônibus e quando rumava pro comercio local, decidiu descer e fotografar pela ultima vez o Planalto Central.
A luz estava boa, e ficou uns 20 minutos admirando as belezas de Brasília...
Até que avistou um casal aos beijos, era um senador, com... Outro senador!
E Alessandro, um solteirão convicto, ficou escandalizado com tudo aquilo, mas mesmo assim não deixou de fotografar, e mesmo tentando disfarçar, era notório que estava um pouco ‘entusiasmado’ com a cena.
Ligou para o jornal de grande circulação no qual um dia trabalhara, Marcou uma hora com o antigo editor, foi mal recebido pelo ex-chefe ranzinza que foi logo tratando de avisar que não tinha nenhuma baga no jornal.
Alessandro depositou o envelope pardo sobre a mesa repleta de corimbos canetas e papéis, o homem magro com cabelos castanhos olhos claros e pele corada, retirou as fotos com uma cara que era um misto de raiva e pressa..
Quando olhou as fotos a expressão mudou. Mudou exageradamente, sentou-se em sua cadeira e sorriu para Alessandro, um sorriso que Alessandro desconhecia, os olhos ficaram pequenos, a boca do homem estava seca, tentou falar alguma coisa, pegou o telefone disse para a secretária que trouxe dois cappuccinos, Alessandro disse que preferiria um expresso, descafeínado...
Depois de 07 a 08 minutos, a mulher morena com cabelos longos e encaracolados, entra com os cafés, o ex-chefe pergunta quanto ele quer pelas fotos, Alessandro segura o envelope com uma mão, o café com a outra e diz.
- Obrigado pelo café!
Saiu daquele jornal com a alma lavada, não entendia como passou por sua cabeça a idéia de vender as fotos para aquele calhorda.
Foi até a minúscula redação do “Jornal da Capital”, conversou com o simpático editor chefe, disse que tinha um furo de reportagem, o homem, suou quando viu as fotos, pediu dos cafés que vieram em copos pequenos e de plástico.
Na segunda feira o “Jornal da Capital, teve um tiragem recorde de 100.000 exemplares, na terça feira 300.000, e foi assim até o fim da semana, cada dia com um foto exclusiva que o “Jornal da Capital” se tornou o mais respeitado e popular jornal de Brasília.
Alessandro se tornou repórter especial do “Jornal da Capital” deu entrevistas sobre o dia daquele revolucionário ensaio de fotos, falou sobre os beijos e amassos dos senadores.
Que hoje em dia são vice e presidente do Brasil.
Alessandro hoje com 43 anos, está prestes a curtir sua tão sonhada aposentadoria, é correspondente do “Jornal da Capital”, tem uma residência fixa em São Francisco, Califórnia.
Está no Brasil para o aniversário de 13 anos de casamento dos eternos “senadores”, Alessandro, porém nunca se casou, mas deixou de mentir, pelo menos para ele mesmo!







*****

Jorge desde sempre foi Jorginho, desde os cinco anos de idade morava com a mãe, o pai depois da separação, mudou de cidade mas ainda assim era muito presente.
Quando completara 13 anos, a mãe conhecera um novo alguém, alguém este que veio morar em sua casa, trazendo desavenças, problemas, gritarias, grosserias, novas regras, castigos intermináveis, tudo isso com o consentimento da agora omissa mãe.
Resolveu ir morar com o pai, Carlos Eduardo, mas que desde sempre foi Edu.
Só que o pai também morava com um alguém, nesse caso era o “tio” Daniel.
Mudou de cidade, e conseqüentemente mudou de colégio.
Saiu da ensolarada Rio de Janeiro e foi para ensolarada Recife, ta tudo bem, não foi uma mudança tão significativa...
Trocou Copacabana por Boa Viagem, o Shopping Leblon, pelo Shopping Recife, os amigos de infância pelos amigos de adolescência...
Ia fazer 16 anos, e decidiu dar uma festa, na verdade a idéia foi de “tio” Daniel, que mesmo muito ocupado com reitoria da UPE (Universidade de Pernambuco), arrumou tempo para organizar o melhor aniversário da vida de Jorginho...
Edu, seu pai, era um engenheiro petroquímico, viajava bastante, mas não era tão ausente quanto se possa imaginar. A festa estava rolando em um clube e estavam todos lá, amigos, conhecidos, colegas, professores, desafetos, enfim, uma típica festa adolescente. Até uma de suas inúmeras paqueras, Marcela, estava na festa com um biquíni, que deixava Jorginho Louco...
O sol estava escaldante, a musica envolvente a piscina fervia, seu pai e seu tio, estavam curtindo, mostrando os corpos malhados em trajes de banho, quando o sol estava em seu horário de pico, e a musica parecia ter penetrado nos ouvidos de uma forma inexplicável, talvez impulsionados pela bebida seu pai e “tio” Daniel, decidiram fazer algo, até então nunca presenciado por Jorginho.
Deram um beijo, não um beijo no rosto, coisa que já seria muito estranha, e sim um beijo de verdade, molhado... Infinito!
Jorginho olhava para os lados, mas ninguém se mostrara tão chocado quanto ele, procurava caras de espanto, mãos levadas a boca, meninas rindo, cochichado, arrancando os cabelos, ou então meninos com expressões de raiva, desprezo e beiços virados, tentou inutilmente encontrar alguém, uma alma sequer que compartilhasse com seu preconceito.
Tentou febrilmente, mas foi em vão.
Acabou sentindo uma vergonha tão grande de si mesmo, que mergulhou na piscina, ficou um bom tempo submerso, as lágrimas misturavam-se com a água, gritava sem ser ouvido, se sentiu tão minúsculo, tão pequeno, que pensou em morrer...
Até que Marcela, o levantou, e com um beijo doce devolveu todo o fôlego que ele pretendia perder.
As 23:00 cantaram o parabéns, ele assoprou suas velas, fez seu pedido, cortou o primeiro pedaço de bolo, e entregou para 4 mãos, as mãos de seus pais...!

3 comentários:

  1. gostei .....Da onde e essas historias? Interecante.....
    Vo sempre continua lendo..ok...
    abracao
    bjs
    xau

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  2. Nossa, Rodrigo!!!
    Vc conseguiu extravazar toda a angustia que eu pensava que so fosse possivel com terapia. Sou uma panela de pressão de emoções tb e azar meu não ter essa sua valvula de escape que são os posts... Já tentei "colocar no papel", mas não sai!
    Força sempre!!

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